... a invisibilidade.
Das luzes do morro – das casas e dos fuzis. Contada assim, feito um conto antigo, que ninguém consegue dizer onde começou. Não que nunca tenham tentado. As alegorias do subdesenvolvimento cinema-novistas já lançavam as lentes sobre os condenados da terra. Em forma de manifesto, portanto de movimento, estético e ideológico, compartilhavam da tentativa de fazer significar nossa escassez e explicar as origens desta. Para onde foi, entretanto, o povo que faltava?
Morre-nasce nos morros do Cantagalo; vive-morre no asfalto de Ipanema. O já clichê da “Cidade Partida”, que se cruza e não se resolve. Não é difícil ver as discrepâncias entre o meio da classe média falida, de recursos e valores, donde abre-se um fosso entre a riqueza material e o cultivo moral; e o meio favela, das subclasses semi-desprovidas de escolha. Mas, chega um ponto em que é muito mais difícil ver as distinções do que as semelhanças entre esses mundos retratados por Breno Silveira (Era uma vez, Brasil, 2008). Retratados, mesmo, com todos os requintes de “realidade” documental de se filmar no lócus da história e abusar das referências de obras como "174" e de seu trabalho com Eduardo Coutinho.
É polêmico, mas não simplista. Aproximar o mundo de conto de fadas (do castelo em ruínas) de Nina e os sonhos solapados como uma bola dividida, de Dé. Este, que cresce com a arma apontada na cabeça, e ainda assim dá-se ao luxo de ser honesto. Aquela, que rodeada de relações superficiais pautadas em corrupção e mediocridade, ousa cruzar a linha, a rua, os portões de ferro. Os mundos se cruzam no tráfico e raves; nos preconceitos mútuos sobre o outro e sobre o si mesmo; nas barreiras que se cria para proteção contra o outro, que restringe pois as possibilidades de encontros; nas relações de dominação, subordinação e humilhação, pelo dinheiro, pelo status, pelo mando, pela ordem; no fechar os olhos e lavar as mãos para a violência do lado de fora, das vidraças e dos barracos...
Mas os mundos são obrigados a se entrecruzar, efetivamente, embaralhando e revelando aproximações, por algo maior que terror, que medo, que ódio, mas para o qual somos igualmente impotentes: o amor. Há de se lembrar que esse é o pano de fundo para o argumento. E por mais que os vitimados por esse sentimento tentem ficar atrás de suas trincheiras historicamente erguidas, não há muito como lutar.
Mas a viabilização do amor é sufocada pelas tensões da vida que corre por fora. Tem gente que vira bandido porque é ruim. Mas tem gente que não – tenta Dé explicar e mesmo entender “escolhas” e constrangimentos que levam a elas, como comenta um atento amigo meu. Dos meninos que crescem jogando bola, esperando a mirada do olheiro do Flamengo e apertam os olhos frente a páginas já escritas, tentando ler velhas e novas histórias. Vendem o que tiver que vender - droga, cachorro-quente, malabares. Questão de escolha?
Já adiantei: a estória não é nova. Muitos guris já foram cantados. Muitos romances entre plebeu e princesa contados. Muitas favelas filmadas. Mas há novos e mesmo tristes contornos, da naturalização e banalização da violência, da morte como solução para a falta desta, de não somente heróis assassinos mas, antes, heróis assassinados. Desculpe o clichê, mas estamos longe de fechar nosso Era uma vez diário com um felizes para sempre. Não há resposta. Não há sequer explicação. E parece que faz algum tempo que nós (o cinema e sabe-se mais quem) deixamos de lado tal pretensão. Ou faz algum tempo que nos deixou de lado a garantia e possibilidade de fornecer explicação.
Das luzes do morro – das casas e dos fuzis. Contada assim, feito um conto antigo, que ninguém consegue dizer onde começou. Não que nunca tenham tentado. As alegorias do subdesenvolvimento cinema-novistas já lançavam as lentes sobre os condenados da terra. Em forma de manifesto, portanto de movimento, estético e ideológico, compartilhavam da tentativa de fazer significar nossa escassez e explicar as origens desta. Para onde foi, entretanto, o povo que faltava?
Morre-nasce nos morros do Cantagalo; vive-morre no asfalto de Ipanema. O já clichê da “Cidade Partida”, que se cruza e não se resolve. Não é difícil ver as discrepâncias entre o meio da classe média falida, de recursos e valores, donde abre-se um fosso entre a riqueza material e o cultivo moral; e o meio favela, das subclasses semi-desprovidas de escolha. Mas, chega um ponto em que é muito mais difícil ver as distinções do que as semelhanças entre esses mundos retratados por Breno Silveira (Era uma vez, Brasil, 2008). Retratados, mesmo, com todos os requintes de “realidade” documental de se filmar no lócus da história e abusar das referências de obras como "174" e de seu trabalho com Eduardo Coutinho.
É polêmico, mas não simplista. Aproximar o mundo de conto de fadas (do castelo em ruínas) de Nina e os sonhos solapados como uma bola dividida, de Dé. Este, que cresce com a arma apontada na cabeça, e ainda assim dá-se ao luxo de ser honesto. Aquela, que rodeada de relações superficiais pautadas em corrupção e mediocridade, ousa cruzar a linha, a rua, os portões de ferro. Os mundos se cruzam no tráfico e raves; nos preconceitos mútuos sobre o outro e sobre o si mesmo; nas barreiras que se cria para proteção contra o outro, que restringe pois as possibilidades de encontros; nas relações de dominação, subordinação e humilhação, pelo dinheiro, pelo status, pelo mando, pela ordem; no fechar os olhos e lavar as mãos para a violência do lado de fora, das vidraças e dos barracos...
Mas os mundos são obrigados a se entrecruzar, efetivamente, embaralhando e revelando aproximações, por algo maior que terror, que medo, que ódio, mas para o qual somos igualmente impotentes: o amor. Há de se lembrar que esse é o pano de fundo para o argumento. E por mais que os vitimados por esse sentimento tentem ficar atrás de suas trincheiras historicamente erguidas, não há muito como lutar.
Mas a viabilização do amor é sufocada pelas tensões da vida que corre por fora. Tem gente que vira bandido porque é ruim. Mas tem gente que não – tenta Dé explicar e mesmo entender “escolhas” e constrangimentos que levam a elas, como comenta um atento amigo meu. Dos meninos que crescem jogando bola, esperando a mirada do olheiro do Flamengo e apertam os olhos frente a páginas já escritas, tentando ler velhas e novas histórias. Vendem o que tiver que vender - droga, cachorro-quente, malabares. Questão de escolha?
Já adiantei: a estória não é nova. Muitos guris já foram cantados. Muitos romances entre plebeu e princesa contados. Muitas favelas filmadas. Mas há novos e mesmo tristes contornos, da naturalização e banalização da violência, da morte como solução para a falta desta, de não somente heróis assassinos mas, antes, heróis assassinados. Desculpe o clichê, mas estamos longe de fechar nosso Era uma vez diário com um felizes para sempre. Não há resposta. Não há sequer explicação. E parece que faz algum tempo que nós (o cinema e sabe-se mais quem) deixamos de lado tal pretensão. Ou faz algum tempo que nos deixou de lado a garantia e possibilidade de fornecer explicação.
(Mas, repito: Não menos efetivo, não menos político. Pelo menos no que diz respeito ao cinema...)